Para nunca esquecer: eu amo ser professora

Faz uns dois meses que eu estou dando aulas para o ensino superior privado. É pouco tempo, eu sei... Mas acredito realmente que o tempo é irrelevante quando a gente descobre atividades que conquistam nosso coração. E foi isso que aconteceu.

É desafiador, ainda mais em um cenário de pandemia como atualmente. Aulas on-line, contato intenso com cada aluno para garantir que esteja tudo indo bem, mas, mesmo com os obstáculos da distância e da tecnologia, tenho o coração aquecido após cada aula. É claro que tenho ciência sobre as condições privilegiadas em que dou aula. Falo sobre a experiência que tenho e não sobre condições de tantos outros professores que sofrem e se veem em desespero por falta de apoio e de estrutura - em todos os sentidos.

Compartilho apenas o que sinto diante do que tenho vivido: é entusiasmante ver os alunos acompanhando uma linha de raciocínio e debatendo sobre ela. É lindo ver cada um deles aplicando conceitos aprendidos. É comovente receber mensagens de gratidão ou com pedido de ajuda: isso mostra que os vínculos foram formados. No fim das contas, isso vale mais, muito mais que qualquer conteúdo.

Dar aula é mais do que dar aula. É um processo que envolve mais fatores do que eu imaginava. Nenhuma licenciatura te prepara pra isso. E isso é bom. As relações humanas estabelecidas pelos papéis "aluno" e "professor", tantas vezes já discutidas, são complexas e ricas em significados. Possivelmente, para toda pessoa que assume um desses papéis, esses sentidos se transformam. Os sentimentos são únicos. Talvez para melhor, talvez para pior, mas sempre únicos.

A gente pensa, planeja, desenvolve, aplica, ensina. A gente conversa e, às vezes, fica meio num monólogo... E quando isso acontece, tem algo errado ali. E é hora de assumir uma função a mais: os alunos não querem aula por aula. Querem motivação. Querem entender por que aprender aquilo e por que você está ali ensinando. Querem ser chacoalhados e sentir de novo o que fez eles se matricularem naquilo. Ser professor também é ser ponte, ser imã, ser diário, ser amigo, ser porto... E, sinceramente, acho que é aí em que mora a beleza. O lado humano de ensinar. O lado humano de ser educador. Porque profissionais bons, seguros, preparados para o mercado de trabalho a gente acha aos montes, mas uma pessoa segura, confiante, motivada com a profissão é algo cada dia mais raro. Os professores podem fazer essa chama não se apagar, ou, ao menos, continuar alimentando, de pouco em pouco, esse calor que inspira os alunos a não desistirem.

Nesse pouco tempo, também recebi mensagens de alunos que pensam em trancar o semestre. Eu sei que não é uma responsabilidade (integralmente) minha. Sei que os alunos têm decisões próprias, livre arbítrio, outros fatores que os fazem escolher um caminho em detrimento de outro. Mas cada um deles é um ser tão cheio de dúvidas, incertezas e histórias quanto eu, quanto qualquer outra pessoa. E essas histórias merecem e precisam ser ouvidas, discutidas, compartilhadas, valorizadas, olhadas com carinho (aqui entra o lado jornalista também...). Não está no contrato que o professor faz isso. Mas quem entra nessa profissão com amor por ela não está preocupado apenas em repassar conteúdos, corrigir provas e receber o salário. Quem entra nessa profissão quer mais... E esse "mais" é fazer parte da vida de cada aluno. Contribuir com a formação de forma integral, de forma afetiva, de forma preocupada.

Eu poderia escrever ainda mais sobre isso. Poderia tentar explicar o que eu sinto quando eles me chamam de "professora" por carinho e respeito, e não por obrigação. Poderia usar mil recursos linguísticos para defender a vida de um professor e, ao mesmo tempo, não parecer que todo-professor-precisa-fazer-tudo-e-mais-um-pouco. Não é isso. Não é sobre obrigação de nenhum dos lados, nunca foi sobre isso. É sobre amor e entrega. É sobre estar no lugar certo fazendo o que o coração diz que é certo.

Eu amo ser professora. E eu não quero nunca me esquecer disso.




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